O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou no fim de janeiro a atualização do seu relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em inglês). Nessa última versão, o órgão internacional prevê um crescimento do PIB do Brasil de 1,7% para 2024, um aumento de 0,2 pontos para a projeção anterior.

No entanto, a economia do Brasil sofrerá uma desaceleração em relação a 2023. O mesmo relatório prevê um crescimento de 3,1% do PIB no ano passado. Além disso, a projeção para 2025 não mudou em relação às estimativas divulgadas em outubro do ano passado, mantendo-se em 1,9% de aumento do PIB.

Focus, IPEA, Banco Mundial e OCDE divergem sobre PIB

As estimativas do FMI para o PIB brasileiro em 2024 não divergem muito daquelas do Relatório Focus, divulgado pelo Banco Central no dia 6 de fevereiro. O relatório, publicado semanalmente, tem como base as projeções dos economistas do mercado financeiro.

Para 2024, o relatório mantém a projeção de crescimento do PIB em 1,6%. Além disso, a estimativa do PIB para 2025 se manteve em 2%, que é a mesma há 8 semanas. Por fim, para 2026, está em 2%, a mesma há 26 semanas.

Outro relatório recente é o do Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas (IPEA), publicado em 20 de dezembro de 2023. Segundo a Visão Geral da Conjuntura, a projeção para 2024 é de um crescimento de 2% no PIB brasileiro.

Além do FMI, outras duas instituições internacionais divulgaram suas projeções. Por exemplo, o Banco Mundial divulgou em janeiro deste ano o Perspectivas Econômicas Globais. A instituição aumentou a previsão de crescimento econômico do Brasil para 2023 e 2024, mas diminuiu para 2025.

Para 2024, a nova estimativa do Banco Mundial é de 1,5% para 2024, 0,1 ponto a mais que a anterior. O relatório projeta um aumento de 3,1% do PIB em 2023. A previsão anterior, publicada em junho do ano passado, projetava expansão de 1,2%. Por fim, para 2025 o Banco Mundial prevê um aumento de 2,2%. No relatório do ano passado a previsão era de um crescimento de 2%.

Já a Organização para Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) divulgou um relatório, no dia 5 de fevereiro, com projeções para o crescimento dos países do G20. Para o Brasil, a Organização não alterou a projeção de aumento do PIB em 1,8% para 2024 e 2,0% para 2025, em relação ao relatório de novembro de 2023.

Previsões anteriores erraram sobre 2023

Em meio a essas variações de projeções, é importante lembrar que no ano passado os economistas do mercado financeiro erraram a estimativa do crescimento do PIB. Afinal, no fim de 2022, eles estimavam no Boletim Focus um crescimento de 0,8% da economia brasileira em 2023.

Portanto, era uma projeção bem pessimista perto dos números apresentados, que comprovam um crescimento em torno de 3% (3,1% para o FMI e Banco Mundial, 3,2% para o IPEA). Além disso, no último boletim, os economistas também ajustaram a previsão de 2023 para 2,92%.

No entanto, as estimativas dos Focus convergem para as do FMI quanto ao crescimento do PIB para 2024, as duas em 1,6%. Além disso, elas estão próximas daquelas divulgadas pelo Banco Mundial, 1,5%, e pela OCDE, 1,8%. Por outro lado, o IPEA projeta um crescimento de 2%, mais próximo daquele estipulado pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, que é de 2,2%.

Todas as projeções mostram que haverá queda no crescimento econômico do país em relação a 2023. Segundo o estudo do IPEA, o crescimento do PIB em 2023 se deu principalmente devido a dois fatores. Em primeiro lugar, houve uma melhoria no consumo das famílias, sustentado pelo aumento da massa salarial ampliada. Além disso, cresceram as exportações, principalmente de produtos agropecuários e petróleo.

O IPEA aponta que a desaceleração prevista para 2024 tem como principal fator uma queda esperada do valor adicionado da agropecuária, em 3,2%. Essa piora no setor está relacionada a fatores climáticos adversos. No entanto, algumas commodities, como o petróleo, podem ter um desempenho melhor. A competitividade das áreas do pré-sal é um fator importante, especialmente se a expectativa de crescimento do PIB mundial para 2024 se manter.

Inflação deve ficar dentro da meta

As divergências entre os economistas do mercado financeiro e o governo também aparecem nas estimativas para a inflação. Por exemplo, no último boletim Focus, a estimativa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de 3,81% para 2024. Por outro lado, para 2025, a previsão é de 3,5%, a mesma há 28 semanas, e 3,5% para 2026, estável há 31 semanas.

Já a SPE estima uma inflação em 3,55% para 2024.

A meta da inflação para este ano no Brasil é de 3%. Mas ela tem uma margem de tolerância que varia de 1,5% para cima ou para baixo. Portanto, na prática, a inflação deve ficar entre 1,5% e 4,5% para que se possa cumprir o fixado pelo Conselho Monetário Nacional.

Melhora no cenário internacional

O relatório da OCDE, do último dia 5, projeta que a inflação na maioria dos países do G20 retorne à meta até o fim de 2025. A organização espera que ela caia de 6,6% em 2024 para 3,8% em 2025. Mas ainda é cedo para se ter certeza se a inflação está totalmente contida na maioria dos países. O relatório aponta que essa incerteza se deve aos custos de trabalho ainda acima do desejável.

Os relatórios do FMI e do Banco Mundial também apresentam as perspectivas para o cenário global. Por exemplo, para o Fundo Monetário Internacional, a economia global deve crescer 3,1% em 2024, 0,2 pontos a mais que a previsão de outubro do ano passado. Por outro lado, para 2025, a projeção continua em 3,2%. Portanto, a previsão para 2024-2025 está abaixo da média histórica, que é de 3,8%.

A melhora é fruto de uma maior resiliência da economia nos EUA e em vários mercados emergentes grandes, com destaque para economias em desenvolvimento. O economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, destacou o crescimento de países como o Brasil e a Índia, assim como das principais economias do Sudeste Asiático.

No relatório, o FMI destaca a melhora das projeções para grandes economias, como a brasileira e a mexicana, em 2024. Segundo o texto, essa melhora:

“…reflete, em grande parte, os efeitos de transferência de uma demanda interna mais forte do que o esperado e de um crescimento superior ao previsto nas grandes economias parceiras comerciais em 2023.”

Porém, o crescimento do Brasil será inferior àquele projetado pelo Fundo para a América Latina, estimado em 1,9%. Essa estimativa é de 0,4 pontos a menos que a última, e tem como principal motivo a expectativa de mais um ano de recessão na Argentina. No entanto, para 2025, o relatório prevê uma retomada da economia da América Latina, com um crescimento de 2,5%.

Já o Banco Mundial estipula que a economia latina-americana teve um avanço de 2,2% no PIB em 2023, 0,7 pontos acima da projeção anterior, em junho de 2023. Além disso, o relatório aumentou a projeção para 2024, de 2,0% em junho para 2,3% agora em janeiro. Por outro lado, reduziu a projeção para 2025, de 2,6% para 2,5%.

Virada na política fiscal e monetária

O relatório do Banco Mundial apresenta um cenário importante para a desaceleração da economia global em 2024. Segundo o órgão, ela é resultado dos efeitos atrasados do aperto na política monetária e de condições financeiras restritivas. Além disso, reflete o fraco cenário nos investimentos e no comércio global.

Já o relatório do FMI afirmou ter uma visão “neutra” em relação ao quadro fiscal das economias emergentes e em desenvolvimento. No entanto, destacou a exceção de Brasil e Rússia, onde a flexibilização da política fiscal já teve início no ano passado.

Nos outros casos, o relatório vê uma maior restrição de gastos em 2024, para recompor suas contas e conter o aumento da dívida. Segundo o órgão, isso pode abrandar o crescimento a curto prazo.

O relatório também mostra a diferença entre a política monetária de países emergentes e ricos. Economias como a da Europa e dos EUA avaliam apenas neste ano o momento certo para o corte de juros. Por outro lado, na América Latina, essa flexibilização já começou. O relatório cita o exemplo de países como Brasil e Chile, onde os bancos centrais apertaram a política mais cedo. Nesses casos, a inflação está em queda e a taxa de juros menor já vem desde 2023.

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