O Bank of America (BofA) divulgou um estudo que aponta para uma possível saturação do mercado de fintechs no Brasil. O relatório foi produzido com base em um levantamento da empresa de consultoria Sensor Tower.
Entre os indícios por trás dessa percepção, está a desaceleração no número de downloads de aplicativos. Também chama a atenção a base de usuários relativamente estabilizada — principalmente, no recorte dos últimos dois anos.
Mercado de fintechs teve forte crescimento nos últimos anos
O relatório do BofA também leva em conta o cenário de forte crescimento dos últimos cinco anos. Nesse período, que vai de 2019 a 2023, a quantidade de usuários ativos dos chamados “neobancos” triplicou no país.
O mercado de bancos digitais atingiu 1 bilhão de downloads de aplicativos desde 2012. Houve um pico próximo dos 250 milhões de downloads de apps de bancos em 2021. No entanto, isso se explica em grande parte pelo isolamento social em meio à pandemia.
Afinal, durante a crise sanitária, ocorreu uma forte digitalização de diversos serviços. Por exemplo, as compras online dispararam. Então, não surpreende que os novos bancos também tenham se beneficiado.
Atualmente, o BofA estima que haja 180 milhões de usuários de bancos digitais no Brasil. Isso equivale a 80% da população. Portanto, parece deixar pouca margem para uma expansão ainda maior das fintechs.
Downloads em queda e base de clientes estável
Em 2023, o número de downloads de aplicativos já havia caído para 160 milhões. Portanto, isso aponta para uma desaceleração do fenômeno dos bancos digitais, líderes entre as fintechs nacionais.
A tendência também fica evidente com a consolidação da base de usuários ativos. Em 2023 houve a primeira queda no número de pessoas que acessaram um app de banco digital ao menos uma vez por mês.
Esse fenômeno aponta para a necessidade de uma mudança de foco — da captação para a fidelização dos clientes.
Nubank mantém expansão em mercado concentrado
Junto a essa consolidação, ocorre também uma concentração do mercado. Afinal, os cinco maiores bancos digitais do país já representam juntos 70% da base de usuários. São eles:
- Nubank
- PicPay
- Mercado Pago
- Inter
- C6
Por exemplo, dois anos antes, eles reuniam 60% do total de clientes. Considerando a base de clientes estável nesse período, isso indica que as fintechs maiores estão crescendo às custas de competidores menores.
O Nubank já concentra um terço dos usuários de bancos digitais. Sua base de clientes, superior a 58 milhões, é duas vezes maior que a do segundo colocado no ranking — o PicPay.
Bancos | Usuários ativos em dezembro de 2023
(em milhões) |
Variação no último ano |
Nubank | 58,4 | +20% |
PicPay | 23,17 | -11% |
Mercado Pago | 19,2 | +24% |
Inter | 18 | +2% |
C6 | 13,2 | -9% |
Desde 2019, o “roxinho” só aumentou sua base de clientes. Foram cerca de 10 milhões de usuários novos a cada ano desde então. Por outro lado, o restante da indústria amargou, em conjunto, uma queda de 12 milhões de contas ativas no último ano.
O destaque negativo em 2023 foi o PicPay, com uma queda de -11% no número de usuários. Por outro lado, o Mercado Pago teve um crescimento expressivo de +24%.
Competição deve ficar mais acirrada
Com uma margem menor para se expandirem sobre a população não bancarizada, essas plataformas digitais devem mudar sua postura nos próximos anos.
A tendência é que ocorra uma competição muito maior pelos usuários ativos. Aliás, isso não quer dizer que o cliente de um banco excluirá sua conta para migrar para um concorrente. Em vez disso, pode simplesmente usar um aplicativo mais que o outro.
Como consta no texto do relatório, a briga é justamente por essa preferência.
O foco dos participantes deve mudar para a conquista de “principalidade” dos clientes, o que provavelmente levará a uma maior consolidação e a uma concorrência mais acirrada.
Por outro lado, bancos tradicionais têm resistido ao avanço dos principais concorrentes digitais. A maioria deles terminou o ano passado com uma base de clientes parecida com a que tinha em dezembro de 2022.
Por exemplo, Caixa Econômica, Bradesco, Santander Brasil, Itaú e Banco do Brasil tiveram variações entre -7% e +5% no número de usuários ativos na versão digital.
As estratégias dos bancos para o novo cenário
Segundo o relatório do BofA, os bancos poderão focar mais em métricas como o valor dos depósitos e a venda de produtos para seus clientes. Afinal, muitos deles continuarão a comparar os preços e a qualidade dos serviços em diferentes apps nos quais têm conta para escolher a melhor opção.
Isso pode ocorrer às custas de um enfraquecimento dos competidores menores. Por exemplo, em 2023, muitos deles tiveram uma queda em sua base de clientes ativos, incluindo o AME Digital (-71%), BanQI (-46%) e Pan (-27%).
Por outro lado, os principais players têm conseguido explorar bem o engajamento dos clientes graças a serviços como cartões de crédito e empréstimos. Segundo os analistas do Bank of America:
Importante ressaltar que tanto o Nubank quanto o Inter construíram com sucesso bases sólidas de depósitos, validando uma alta principalidade de contas.
Nesse cenário, deve ficar cada vez mais difícil o surgimento de novas empresas nesse mercado. Afinal, o custo de entrada tende a subir ainda mais em um cenário de forte concentração.