Na manhã desta segunda-feira (05/02), oficializou-se a fusão entre os grupos Arezzo e Soma, conforme anúncio da última semana. Esse movimento, precedido por especulações acerca da finalização dos termos, marca a maior transação já realizada no setor da moda brasileira.
A nova entidade, liderada por Alexandre Birman como CEO, agrega um portfólio de 34 marcas, emprega 22 mil pessoas e projeta um faturamento próximo de R$ 12 bilhões.
Em resumo, este conglomerado abrangerá quatro segmentos de mercado: calçados e bolsas, vestuário feminino, vestuário masculino e vestuário para todos os públicos. Neles, estarão Luciana Wodzik, Roberto Jatahy, Rony Meisler e Thiago Hering no comando de cada vertical, respectivamente.
A fusão será efetivada mediante uma troca de ações, na qual os acionistas da Arezzo&Co ficarão com 54% do capital e os do Soma, com 46%. Um novo nome para o grupo ainda será divulgado.
Maior empresa de moda teve sua origem numa disputa pela Hering
Em abril de 2021, o Grupo Soma, proprietário das renomadas grifes cariocas Animale e Farm, consolidou a aquisição da Hering por R$ 5,14 bilhões. Com este passo, ele superou a oferta de R$ 3,2 bilhões apresentada pela concorrente Arezzo&Co. Dois irmãos imigrantes alemães fundaram a Hering em Blumenau (SC), uma empresa com raízes históricas que remontam a 1880.
Roberto Jatahy, o presidente do Soma, expressou sua preocupação inicial sobre a possibilidade de Alexandre Birman, líder da Arezzo, nutrir algum ressentimento decorrente da disputa acirrada. No entanto, a tensão entre os executivos se desfez após um convite de Birman para um encontro no Copacabana Palace. Lá, marcou-se o início de uma colaboração que culminaria na fusão entre Soma e Arezzo.
Jatahy, aos 54 anos, revelou durante uma coletiva de imprensa que as conversas evoluíram para um projeto conjunto. Isto resultou na união das empresas, formalizada no domingo (04/02). As negociações, que se aceleraram nos últimos dez dias, finalizaram com uma maratona de mais de dez horas de reuniões no último dia, simbolizando o esforço conjunto para a integração das companhias.
Ao citar a complementaridade entre Soma e Arezzo, Jatahy metaforicamente afirmou que “o rio corre para o mar”. Em suma, a fusão era uma progressão natural da relação entre as duas empresas, eventualmente levando à sua união.
A mais nova empresa de moda contará com 34 grifes e terá um nome até junho
Guilherme Benchimol, aos 47 anos e fundador da XP Investimentos, assumirá a posição como um dos sete membros do conselho da empresa de moda, ainda aguardando a nomeação de seu chairman. No entanto, a companhia está prestes a ter um novo nome em uma assembleia de acionistas programada para junho.
Além disso, se tornará a maior empresa do setor na América Latina. Serão 34 marcas de roupas, sapatos e acessórios destinados a públicos feminino, masculino e infantil.
Essa gigante do varejo, surgida da operação financeira orquestrada por Benchimol, consolidará suas operações em oito fábricas. Quatro dessas dedicadas à produção de calçados e quatro ao vestuário, além de sete centros de distribuição.
Nova empresa de moda empregará 22 mil pessoas
Projetada para um faturamento anual de R$ 12 bilhões, a empresa reporta um lucro líquido de R$ 753 milhões e Ebitda de R$ 1,53 bilhão. Ademais, carrega uma dívida líquida de R$ 1,3 bilhão. A nova empresa está avaliada em R$ 13 bilhões no mercado, com um patrimônio líquido de R$ 10,5 bilhões, segundo o consultor financeiro Einar Rivero.
Com um total de 2.057 pontos de venda, incluindo 559 lojas próprias, e uma forte presença em 22 mil pontos multimarcas, a empresa emprega cerca de 22 mil pessoas. O portfólio robusto de clientes ativos, majoritariamente composto pela classe média alta, alcança a marca de 11 milhões de consumidores.
Segundo Birman, ter várias marcas concentradas não é um problema
Alexandre Birman considera a diversidade de marcas da Arezzo&Co. como um trunfo, e não um desafio ou problema. Em entrevista, ele refutou a ideia de que a concorrência interna entre as marcas, todas voltadas ao público premium de moda, possa ser prejudicial.
“Ter diversas marcas sempre nos fez crescer, e com a adição da Soma ao portfólio, esperamos que as possibilidades de expansão se ampliem ainda mais”, afirmou Birman.
A empresa já demonstrou capacidade de inovação, como no desenvolvimento de calçados pela Hering ou nas vendas de sapatos da Schutz nas lojas da Animale, exemplificando como a diversificação pode beneficiar o grupo.
Rafael Sachete, principal executivo de finanças da Arezzo&Co., destacou a importância do cross-selling, apontando que um aumento de receita de 5% em cada marca, gerado por essa estratégia, é altamente positivo para criar sinergias.
Executivos almejam ter presença internacional
Contrariando a abordagem de cortes drásticos, Birman explicou que a fusão com a Soma busca explorar potenciais sinergias. Dessa forma, contratou-se a consultoria da Bain & Company para detalhar essas oportunidades, cujos valores estimados ainda não foram divulgados.
“Este ano é de estruturação para consolidarmos a fusão, e esperamos que o crescimento se materialize a partir do próximo ano”, disse Briman.
O executivo enfatizou o plano de não descontinuar nenhuma das 34 marcas existentes, mas sim de expandi-las. Essa visão é a mesma de Jatahy, que sonha em levar a empresa ao reconhecimento global, aproveitando as marcas do grupo que já são internacionais.
Acordo dos acionistas terá duração de 10 anos
Fechado no último domingo, o acordo de acionistas, válido por dez anos, estabelece a formação de um conselho de administração composto por sete membros. Destes, sendo três indicados por cada empresa, incluindo um independente.
A presidência do conselho será definida por um acordo mútuo entre Soma e Arezzo. De acordo com Birman, a intenção é ampliar a presença feminina no conselho, buscando equilibrar a representatividade de gênero. Atualmente, a Arezzo&Co. conta com duas mulheres em um conselho de nove membros, e a Soma tem uma composição similar.
Para Jatahy, fusão não afetará as marcas criativamente
Na estrutura atual de ambos os grupos, todas as marcas mantêm sua independência nos processos criativos. Roberto destaca que, desde a fusão entre Farm e Animale, o modelo de negócios adotado baseia-se no aprendizado, cultura e respeito aos diretores criativos, considerados os grandes protagonistas da indústria.
Ele enfatiza a importância da singularidade cultural de cada marca, comparando a autonomia entre Gucci e Balenciaga no conglomerado Kering. Ressalta-se que, apesar das culturas distintas, é fundamental a existência de um alinhamento de objetivos e valores comuns.
Nova empresa de moda continuará mirando em novas aquisições
Com foco agora voltado exclusivamente para o segmento de vestuário feminino, Roberto está em busca de novas aquisições. Ele revela uma mudança na estratégia, indicando que, se anteriormente a atenção estava voltada para negócios com receitas na faixa de R$ 300 milhões, atualmente, marcas com faturamento entre R$ 150 a 180 milhões são consideradas atraentes para o portfólio, desde que haja complementaridade.